quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ana Polisel

De caráter experimental, o trabalho de Ana Polisel utiliza uma câmera amadora para realizar vídeos caseiros, registros autobiográficos de seu dia-a-dia desde 2008. No ato da filmagem pratica um monólogo olhando para a câmera. Em suas “conversas” com a câmera descreve memórias, lugares, pensamentos, desejos, pede e sugere atos a serem realizados no futuro, aconselha, seduz, indaga, orienta e olha para o espectador.

Para executar a filmagem do vídeo “Mov00324.MPG” da série auto ajuda, realizado em janeiro de 2009 na casa da artista e, segundo ela, antes de dormir, Ana Polisel recorre a um ambiente silencioso e intimista, onde o enquadramento da câmera fechado no rosto impossibilita a percepção real de onde a artista se encontra, deixando para o espectador apenas especulações sobre o espaço. Segundo Ana Polisel a gravação seria uma modo de deixar um recado para lembrá-la de algumas coisas que naquele momento eram importantes que não esquecesse.

A obra de Polisel não se resume apenas a gravação apresentada. Além de abrir diversas possibilidades de leituras subjetivas por conta do espectador, o vídeo é forma de comunicação entre dimensões de tempo diferentes. A artista comunica-se consigo mesma a partir do momento em que utiliza do registro fílmico como forma de documentação de estados de espírito e de níveis de consciência, tornando a prática de gravar e assistir ao vídeo no futuro, forma de ser guiada pelos caminhos e possibilidades da vida.

Ana Polisel cria uma situação onde o espectador que se depara com sua obra não consegue distinguir de fato se o vídeo apresenta diálogos com a própria artista em um tempo futuro ou se é uma criação fictícia. De qualquer modo, o trabalho aponta indícios sobre o surgimento de uma mitologia pessoal densa e ramificada, em que a artista desenvolve a sua poética.


Gustavo Ferro



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