quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A busca da poética no espaço e tempo.

O artista é prisioneiro de seu tempo.
Baktin

Diante das pesquisas efetuadas ao longo do processo artístico, pode-se definir – a partir de um olhar específico, que elas resultam do modo como cada um de nós se relaciona com todas as coisas que nos circundam.

A maneira de olhar, pensar, refletir e compartilhar algo é o que define ao longo de um percurso (não somente artístico, mas também um percurso de vida, que engloba a todos os seres existentes) quem somos e como somos. Trata-se de um modo singular que cada um tem de se relacionar com o espaço e seu entorno, além de como conviver com tudo que existe no tempo presente que é também um acúmulo de tempos passados.

Cada indivíduo que se relaciona de uma maneira específica com tudo que está no mundo cria uma singularidade. Esta, ao ser compartilhada com os outros indivíduos, resulta em uma das características que compõem cada sujeito, cuja poética se dá simultaneamente a esta relação.

Nesta exposição temos uma reunião de obras de diferentes linguagens e poéticas, reunidas sob um olhar temporal e espacial. Todas as obras em sua execução tangenciam estas questões, ora como assunto de pesquisa, ora em sua materialização como objeto que remete a outros tempos e espaços.

Os trabalhos se relacionam com a noção de tempo como matéria constituinte do corpo da obra; como assunto; como registro contínuo; como elemento que sustenta discussões sociais atuais, entre tantas outras possíveis. Também estabelecem relações com espaços físicos, tanto tridimensionais como bidimensionais, e com espaços não físicos, invisíveis ao olhar, mas que preenchem e dão corpo a memória e a imaginação.

Além destes, os trabalhos se relacionam com espaços oriundos de diferentes ordens, como por exemplo o espaço social, que envolve o comportamento dos indivíduos em diferentes meios de convívio, tal como apresentado nos vídeos do artista Carlos Gonzalez intitulados “Heterossexual come macarrão com carne”.

Existem obras ainda, que permeiam espaços que ficam no limiar entre o privado e o público. O vídeo de Ana Polisel levanta questões de ordem do intimo ao confessar para o espectador desejos, coisas que não devem ser esquecidas, lembranças que transitam entre passado, presente e que se tornam promessas para o futuro. Seu trabalho é também um apontamento de uma "tendência" dos tempos atuais, no qual artigos de diversas origens sobre auto-ajuda são “bem-vindos” na tentativa de solucionar alguns dos vários problemas que vivemos.

Estas e outras obras da exposição apontam para as diversas relações possíveis entre tempo e espaço. Podem-se delinear nesta produção distintas variações de como cada artista se relaciona com o tempo e o espaço presente, além de como cada um desses elementos são articulados.
Paralelamente a estes, busca-se nessas produções artísticas uma firmação da poética através do olhar do artista sobre o mundo e as coisas nele existentes.


Beatriz Toth

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